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Os estudos como sonho e salvação

Os estudos como sonho e salvação

2 anos atrás


“Tinha tudo para dar errado e dei certo”. Essa frase pode parecer, a princípio, carregada de pesar. Mas, na verdade, traz em si toda a força de uma mulher negra que viveu momentos difíceis ao longo de seus 52 anos, mas superou todos eles e firmou seu lugar no mundo do modo como queria e com a ajuda dos estudos.

Gisele Pinto dos Anjos nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu com a mãe e um casal de irmãos mais novos. Apesar das dificuldades e dos problemas familiares dos primeiros anos de vida, é justamente desse período que resgata uma de suas melhores lembranças. “Minha mãe me colocou para estudar na ‘explicadora’, que eram professoras que davam aulas em suas próprias casas. Comecei a estudar com três anos e aos seis já sabia ler, escrever e ver a hora no relógio de ponteiro. Isso me fazia muito feliz”, relembra.

Ainda no início da adolescência, aos 14 anos, teve que sair da escola para assumir a criação dos irmãos mais novos e as atividades domésticas. Ainda assim, nunca abandonou o sonho e desejo de estudar e, quem sabe, virar professora.

O tempo passou, a garota cresceu, trabalhou como manicure, faxineira, passadeira, “explicadora”. No início dos anos 1990, Gisele teve seu primeiro filho. Quatro anos depois, uma menina. Nessa época, mudou-se para São Paulo e deu início a nova etapa em sua vida. Dez anos mais tarde, graças ao seu empenho e aos estudos, tornou-se servidora pública em Mauá e passou a atuar na Secretaria de Governo, onde permaneceu até 2021. Atualmente, está locada na Secretaria de Trabalho e Renda.

Paralelamente ao seu trabalho na Prefeitura, Gisele retoma um sonho antigo: voltar a estudar. Em 2018 se forma em pedagogia e segue aprimorando seus conhecimentos, inclusive se especializando em educação inclusiva. Suas credenciais a levaram a representar Mauá como conselheira do FUNDEB (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica) e na CONAE (Conferência Nacional de Educação), além de ter sido integrante do Fórum Municipal de Educação.

“Estudar me abriu muitas portas e possibilidades”, conta a servidora. Apesar de não aplicar seus conhecimentos especificamente em uma sala de aula, Gisele atua em ONGs e instituições que trabalham com a população em situação de vulnerabilidade social, principalmente crianças e mulheres, inclusive servindo de exemplo de superação para muitas delas.

“É muito gratificante inspirar pessoas, como quando explico que conhecimento gera mudança de vida, libertação, empoderamento genuíno”, comenta animada, contando ainda que, graças a estas conversas, viu diversas mulheres estimuladas a retomarem seus estudos.

Permeando sua trajetória de superação, faz 33 anos que Gisele ocupa parte de seu tempo como contadora de histórias infantis. “Me sinto cumprindo uma missão com muita satisfação. Tenho muito prazer em criar meus visuais, minhas roupas, meu cenário e me divertir contando as histórias e ouvindo as crianças”.

“A leitura e as histórias sempre fizeram parte da minha vida. Eu desejava transmitir possibilidades, motivação, o despertar de uma mente imaginativa, sonhadora, criativa, reflexiva e crítica”, finaliza.

Texto: Edu Guimarães