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“Minha mãe percebeu algo diferente em mim logo no primeiro mês de vida”: os desafios do autismo

“Minha mãe percebeu algo diferente em mim logo no primeiro mês de vida”: os desafios do autismo

7 meses atrás


Família pode ajudar na busca pelo diagnóstico e para conviver com o TEA da melhor forma

Danielle da Silva hoje tem 35 anos. Há dois, ela trabalha na Prefeitura de Mauá, especificamente cuidando da merenda de alunos de uma escola municipal, onde desenvolve um trabalho que gosta muito. Mas nem sempre foi assim.

“Minha infância foi legal mas, ao mesmo tempo, desafiadora. Minha mãe percebeu algo diferente logo no primeiro mês de vida”, relata Danielle. A bebê tinha dificuldade na amamentação, não olhava nos olhos e mesmo tendo começado a falar aos nove meses, falava pouco. Se queria alguma coisa, tipo um sorvete, repetia incessantemente a palavra.

Na escola, “eu amava artes, ciências e “merenda”! Repetia a merenda todo dia, tinha amizade com as merendeiras”, relembra. Mas ficava sozinha no recreio. E é claro que era um desafio fazer amizade, tanto na infância quanto na adolescência. Danielle chegou a parar de estudar diante de tantos desgastes emocionais pelo fato de não se ajustar aos padrões. As crianças não davam atenção, era ignorada nas rodinhas de amigos, os círculos de amizade eram muito restritos, mesmo tentando adotar o mesmo visual das diferentes ‘tribos’ nas quais buscava aceitação.

A falta de informação leva a tamanho retrocesso que muitos momentos foram de extremo sofrimento. Como aos sete anos, quando as professoras observaram o comportamento diferente e a encaminharam para terapia suspeitando da Síndrome de Asperger. No entanto, a terapia não se seguiu porque a família, erroneamente, tinha receio de que fosse enviada para um manicômio pelo Conselho Tutelar. Era um tempo em que as pesquisas científicas eram de acesso bem limitado e muitos profissionais não estavam capacitados para o real diagnóstico.

A informação realmente é importante para tirar as pessoas da vulnerabilidade. Foi lendo um artigo em uma revista que a jovem conheceu sobre a “Síndrome de Asperger.” A partir de então buscou uma psicóloga. O desafio de conviver com sentimentos, sensações e dúvidas fez com que desde menina aprendesse a ‘mascarar’ o que são características como comportamento de quem tem o Transtorno do Espectro autista (TEA). Foi assim que a primeira psicóloga foi categórica ao afirmar que Danielle “não tinha nada, que era coisa que ela tinha imaginado.” Com isso, a jovem seguiu a vida, porque não era ainda dessa vez que poderia entender o que se passava com ela.

Entre as características de TEA que Danielle apresentava estava o ‘hiperfoco’, que é uma concentração de esforços e atenção em cima de um determinado tema. No caso, gatos de estimação e se fantasiar de ‘Emília’, a personagem do ‘Sítio do Pica-pau Amarelo’, obra literária de Monteiro Lobato. O objetivo era alegrar as crianças nas festinhas infantis. Em outros momentos, este hiperfoco foi em petshops e produtos para animais domésticos, em outros foi a clássica Trilogia ‘Guerra nas Estrelas’ e planetas e galáxias.

No entanto, era difícil demais ter que conviver com várias pessoas no trabalho. “Percebi que não tinha habilidades sociais o suficiente para lidar com pessoas no dia a dia de uma empresa por mais que eu me esforçasse. E comecei a ter muitas crises de ansiedade”, descreve Danielle. Novamente procurou ajuda profissional e encontrou uma equipe que deu o diagnóstico preciso em 2022: TEA.

“Me ajudou a entender como me relacionar com as pessoas, manter as amizades respeitando meus próprios limites sem forçar a aceitação das outras pessoas. Busque o diagnóstico, não fique sofrendo. Busque ajuda, você se sentirá melhor, os tratamentos e terapias ajudam demais a ter uma melhor qualidade de vida”, recomenda a jovem. Um sonho? Dois: “reformar a minha casa e pagar convênio para os meus pais”, que ela carinhosamente elogia: “compreensivos.”

O diagnóstico representou a liberdade de se conhecer melhor: “A causa de me sentir tão diferente das outras pessoas, agora sei que não é coisa da minha cabeça”, resume Danielle.