O agente administrativo Márcio Mani foi admitido em março no concurso da Prefeitura. A avó dele, Maria Aparecida Sebastião, já havia sido servidora na Unidade Básica de Saúde do Jardim Santa Lídia, aposentada em 2003, e a mãe, Denise Aparecida Sebastião, também trabalhou em vários setores da administração municipal e se aposentou no início deste ano. Foi Denise quem o levou sem resultados a inúmeros psicólogos, neurologistas, terapeutas e outros profissionais para entender aquele menino com comportamento tão introspectivo, focado, disciplinado e resistente.
O diagnóstico de TEA de Mani só foi obtido no final do ano passado, aos 39 anos e por iniciativa própria. Nesta época, ele trabalhava na iniciativa privada, onde rapidamente teve seu desempenho profissional reconhecido pela gestão nacional de uma franquia de perfumes e cosméticos. Organização, vastíssimo conhecimento em fragrâncias e senso de administração o levaram à indicação para um dos postos mais destacados da empresa no país. Tinha excelente desempenho, conseguia boa interação com a equipe que já era conhecida, tinha o respeito dos clientes pelas indicações sobre os produtos. 
As perseguições começaram quando, aliviado, anunciou o diagnóstico que representava para ele um alívio e uma explicação para tanto sofrimento. Eram quase quatro décadas de incompreensão e o TEA foi visto como uma ameaça por vários colegas. “Chegaram a dizer que eu poderia sair agredindo as pessoas dali”, lamenta o servidor, tristemente. Ele se desligou da empresa e sofreu uma forte crise depressiva, que o levou a estudar detalhadamente sobre TEA. Isto dirigiu o hiperfoco de Mani, uma das muitas características do autismo, em estudar profundamente o transtorno em seus vários aspectos. “O conhecimento liberta” e foi isso que aconteceu. Ele passou a entender quando uma crise estava surgindo, percebeu suas fragilidades e potencialidades, passou a se conhecer muito mais. Quando chegou o resultado do concurso da Prefeitura de Mauá, a energia já era outra.